sexta-feira, outubro 22, 2004

Movimento anti-localismo é universal

Pierre Alfredo continua aqui nos “istaites”, longe do mar mas perto das bancas de revista. E foi em uma delas que ele encontrou a última Surfer especial – Giant Colector’s Edition – quase o dobro do tamanho da Surfer normal, cheia de fotos espetaculares e anúncios nem tanto. Os poucos textos são basicamente os mesmos das outras revistas de surfe – brasileiras inclusive. A matéria de capa tem o título “O que é surfar agora?” e eu pensei que eles iriam “arrombar” com um texto fashion-espiritual-filosófico mas não. Inventaram uma história estranha e ficaram nas modificações técnicas que aconteceram ao longo dos anos, não apresentando nada de novo. Tenho que confessar, no entanto, que não tive saco p’ra ler a matéria até o final.
Mas a seção de cartas está quente e o localismo é um dos destaques.
Inclusive, um dos missivistas provavelmente andou visitando o S365 e lendo as pobres palavras deste colunista pois, da mesma forma como Pierre fez em uma das colunas passadas, ele compara o localismo ao racismo e às ações de grupos como a Ku Klux Klan e etc. Olhem como começa a simpática cartinha, do companheiro Steven Stuart, lá de San Diego, na Califa, que foi primeiro ao dicionário: “RACISMO: 1. Crença na superioridade de uma determinada raça em relação às outras. 2. Discriminação ou dano baseado unicamente em diferença racial. LOCALISMO: 1. Crença na superioridade de um determinado grupo em relação às outras pessoas. 2. Discriminação ou dano baseado na suposição de que se é dono de determinada praia”.
E Steven continua: “Na minha opinião, locais que utilizam da força para proteger suas ondas têm muito em comum com aqueles caras da KKK ou de outros grupos de supremacia racial. Todos eles pensam serem superiores. Todos eles usam da violência para atingir seus objetivos. Qual é a diferença entre uma cruz queimando [símbolo da KKK] e pneus rasgados/vidros riscados? Em ambos os casos o objetivo é o mesmo: humilhar e intimidar visando tomar o controle da situação”. O Steven tá ou não tá certo?
Pierre ganhou também uma Surfing de alguns meses atrás e o que tinha de melhor outra vez eram as cartas. Entre essas, a do Geoff Hagins, que compara os locais de uma determinada praia da Califa a Jim Jones e a David Koresh, ambos líderes de seitas que levaram dezenas de pessoas à morte. Ele diz que esses locais do tal pico ficam incitando outros mais novos a atos de barbarismo contra pessoas de fora. E esses caras, segundo ainda o Geoff, podem também ser comparados a Osama Bin Laden pois, mesmo cometendo estes atos de terrorismo, vivem dizendo que não são terroristas mas sim, que estão só protegendo a própria cultura. Pior é que a comparação do Geoff até que faz sentido.

Mas quem passou esta Surfing para o colunista foi o Davio, um também californiano de quarenta e poucos anos que, mesmo aqui, a quilômetros do mar, continua sempre vestido de surfista e perguntando “lá na tua cidade, no Brasil, tem Quicksilver?” Ele já viajou bastante para pegar ondas e, a respeito do localismo, me disse que uma vez estava em Sunset, todo vermelho do sol – o cara é branco p’ra caramba – esperando a série, quando escuta uns berros. Ele olha e vê o John-Boy Gomes chegando, dando socos na própria prancha e xingando todo mundo. Diz o Dávio que quando Gomes o viu, vermelho, sentadinho ali, não perdeu tempo: “hey you, pink haole. Get out now”. E o que fez o Dávio? Pranchinha debaixo do braço e tchau pra ti.

Surfe na tv
E aquela série de tv que foi objeto de comentário na última coluna – Board House: North Shore – já saiu do ar. Pierre avisou, mas eles não escutaram: surf pode ser muito bom de se fazer mas muito chato de se assistir. E os protagonistas, ainda por cima, não tinham qualquer talento. Nem mesmo Sunny Garcia. A coisa estava tão sem graça que o colunista desistiu no último instante de assistir ao último episódio. É que, na mesma hora, começou a passar Zorro no outro canal. Muito mais irado.

0 Comentários:

Postar um comentário

<< Home