Uma quebrava e atrás já vinha outra. Todas azuis, mas todas diferentes...
Aí, naquele final de tarde, ele se sentou no topo da duna e ficou, de lá, contemplando o mar. Ventava, o cabelo ao ar, mas estava tudo confortável, apesar daquele friozinho de fim de abril, época também das melhores cores. Ele ali a observar as ondas – eram tantas, uma quebrava e atrás já vinha outra, todas azuis, mas todas diferentes. A princípio, nada demais, ele, a praia, o mar de sempre, mas naquele dia havia algo especial, uma sensação diferente, impar, detectável justamente porque, enquanto olhava a imensidão e as ondas, ele nelas não pensava. Nada lhe passava a não ser um bem estar, o prazer simples de apenas assistir o mar.
Ao mesmo tempo, ele percebia emergir uma pontinha de tristeza da qual não sabia a origem. Talvez não fosse tristeza – palavra exagerada –, talvez fosse apenas saudade, saudade que ele tampouco sabia de que. Era algo que já vinha sentindo a algumas semanas, no começo só uns brancos estranhos que lhe abatiam ocasionalmente, aquela vez no ônibus, por exemplo, e naquele outro momento, no trampo. E essa coisa estava atingindo seu climax ali, em cima da duna, enquanto ele admirava o mar, enquanto ele notava a variabilidade e a imperfeição das ondas. Era uma alegria triste, uma nostalgia – talvez essa seja a palavra mais certa: nostalgia. E ele sorriu olhando o mar e, se alguém o visse, diria que estava doido, ou que fumara aquelas coisas que passarinho não fuma. Foi então que, enquanto sorria, seus olhos se encharcaram de lágrimas. Não entendia o que se passava mas, ao mesmo tempo, incrível, ele tampouco sentia vergonha ou tentava se recompor. Simplesmente não estava pensando muito, só sentindo, só olhando, sorrindo e chorando. Enxugou as lágrimas na camiseta branca antes de vesti-la porque o vento apertara e o sol estava a ponto de se mandar.
Sua namorada veio e sentou ao seu lado. Não disse qualquer coisa porque, depois de tantos anos, já o conhecia e via que algo estava errado. Parecia que ele nem notara a sua chegada, absorvido pelo mar que estava, misturando o meio sorriso a um olhar triste. Já de pé, ainda olhando para o oceano, mais restabelecido, ele sentia que algo lhe acontecera naqueles minutos, naqueles momentos sobre a duna. Tinha noção de que aquilo que lhe passara era uma coisa nova, um negócio tão importante quanto indecifrável e, por isso, inesquecível. Era como se ele não fosse mais ele próprio, mas outra pessoa, e essa o observava de fora. Para deixar mais claro: a partir daquele momento na duna, em frente ao mar e à seqüência infinita e imperfeita de ondas, aos 30 anos, ele passou a observar a si mesmo, a se conhecer melhor e compreender as imperfeições da sua vida, a entender cada pensamento bom ou ruim que lhe vinha, todas as coisas legais e todas as cagadas que fez ao longo da sua existência. Não que ele não fosse mais cometer erros, claro que iria, mas pelo menos, daquele momento em diante, ele sabia que esses seriam muito mais conscientes.
Da duna para frente, ele passou a ter certeza das coisas que gosta e das que detesta. Exatamente naquela tarde, o mar, visto lá de cima, lavou-lhe as incertezas e os vacilos. E o acontecido lhe deixou até conseqüências físicas: estava exausto, um cansaço gostoso de quem corre 10 quilômetros e tem como prêmio o corpo irrigado pela endorfina relaxante. Até sede ele tinha. Alguns minutos se passaram até que, subitamente, ele virou-se e convidou a namorada: “vam’bora?” Abraçado a ela, prancha debaixo do outro braço, caminhou para o carro, aprontou tudo e foi. Semanas depois, passou a dividir uma casa com esta mesma moça. Hoje tem dois filhos e está bem.
Ao mesmo tempo, ele percebia emergir uma pontinha de tristeza da qual não sabia a origem. Talvez não fosse tristeza – palavra exagerada –, talvez fosse apenas saudade, saudade que ele tampouco sabia de que. Era algo que já vinha sentindo a algumas semanas, no começo só uns brancos estranhos que lhe abatiam ocasionalmente, aquela vez no ônibus, por exemplo, e naquele outro momento, no trampo. E essa coisa estava atingindo seu climax ali, em cima da duna, enquanto ele admirava o mar, enquanto ele notava a variabilidade e a imperfeição das ondas. Era uma alegria triste, uma nostalgia – talvez essa seja a palavra mais certa: nostalgia. E ele sorriu olhando o mar e, se alguém o visse, diria que estava doido, ou que fumara aquelas coisas que passarinho não fuma. Foi então que, enquanto sorria, seus olhos se encharcaram de lágrimas. Não entendia o que se passava mas, ao mesmo tempo, incrível, ele tampouco sentia vergonha ou tentava se recompor. Simplesmente não estava pensando muito, só sentindo, só olhando, sorrindo e chorando. Enxugou as lágrimas na camiseta branca antes de vesti-la porque o vento apertara e o sol estava a ponto de se mandar.
Sua namorada veio e sentou ao seu lado. Não disse qualquer coisa porque, depois de tantos anos, já o conhecia e via que algo estava errado. Parecia que ele nem notara a sua chegada, absorvido pelo mar que estava, misturando o meio sorriso a um olhar triste. Já de pé, ainda olhando para o oceano, mais restabelecido, ele sentia que algo lhe acontecera naqueles minutos, naqueles momentos sobre a duna. Tinha noção de que aquilo que lhe passara era uma coisa nova, um negócio tão importante quanto indecifrável e, por isso, inesquecível. Era como se ele não fosse mais ele próprio, mas outra pessoa, e essa o observava de fora. Para deixar mais claro: a partir daquele momento na duna, em frente ao mar e à seqüência infinita e imperfeita de ondas, aos 30 anos, ele passou a observar a si mesmo, a se conhecer melhor e compreender as imperfeições da sua vida, a entender cada pensamento bom ou ruim que lhe vinha, todas as coisas legais e todas as cagadas que fez ao longo da sua existência. Não que ele não fosse mais cometer erros, claro que iria, mas pelo menos, daquele momento em diante, ele sabia que esses seriam muito mais conscientes.
Da duna para frente, ele passou a ter certeza das coisas que gosta e das que detesta. Exatamente naquela tarde, o mar, visto lá de cima, lavou-lhe as incertezas e os vacilos. E o acontecido lhe deixou até conseqüências físicas: estava exausto, um cansaço gostoso de quem corre 10 quilômetros e tem como prêmio o corpo irrigado pela endorfina relaxante. Até sede ele tinha. Alguns minutos se passaram até que, subitamente, ele virou-se e convidou a namorada: “vam’bora?” Abraçado a ela, prancha debaixo do outro braço, caminhou para o carro, aprontou tudo e foi. Semanas depois, passou a dividir uma casa com esta mesma moça. Hoje tem dois filhos e está bem.
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