Opressão II
Alguém já deve ter dito isso, mas mesmo assim eu vou relatar. Vou falar porque concluí sozinho, o mérito é todo meu, não copiei de ninguém, nunca li nada a esse respeito porque sempre considerei o assunto tonto demais. Mas eu tive uma luz, um insight, e escrevo pra não esquecer. É que deduzi que todos somos no mínimo dois, quando não três ou mais. Não estou falando de esquizofrenia ou outra doença qualquer, estou me referindo a algo pelo qual todos passamos. Passamos porque, na verdade, esse grau de justaposição de “pessoas” que todos carregamos diminui a medida que vamos envelhecendo.
Mas o negócio é o seguinte, quando crianças ativas, a partir dos 4 ou 5 anos, somos muitas pessoas dentro do mesmo corpo. Somos aquela básica, a primeira e verdadeira, que só nós – e, talvez a nossa mãe – conhecemos, e, paralelamente, somos aquelas que gostaríamos de ser. Personagens que quando os assumimos, “vestimos” sua personalidade e, daí, passamos a agir como súper heróis alados, agentes secretos, sei lá. E não é brincadeira, não é consciente. Nós realmente esquecemos nossa verdadeira pessoa e passamos a ser nossos heróis. E a coisa vai piorando a medida que vamos crescendo. Quando atingimos a adolescência – que para os homens, acaba lá pelos 30 anos –, não temos mais tantas “pessoas” diferentes dentro de nós. Mas as que restam, todas menos a real, são fortíssimas.
Durante esse período, falamos, pensamos, comemos, ouvimos música, praticamos esportes, nos relacionamos com as outras pessoas, de acordo com a personalidade que concebemos como a ideal (de agora em diante, neste texto, considerada a Pessoa B), não como a nossa verdadeira (Pessoa A). Construímos a Pessoa B encaixando características como se fossem peças de lego coletadas nas nossas fontes de informação, que no nosso caso, na atualidade, são as outras pessoas com quem nos relacionamos e a mídia. Assim – que coisa, estou tendo uma conclusão encima da outra –, no fundo, não somos nós quem construímos a Pessoa B, mas sim os outros e a mídia, especialmente esta última. Assim, se você paga uma grana alta por aquela camiseta da marca Tasglen, que nada mais é do que uma camiseta branca com o logo da Tasglen estampado, o faz não porque que você acha a mercadoria bonita mas sim porque ela é imprescindível para o seu Personagem B, é uma das peças de lego que a compõem. Se você insiste em surfar mesmo não gostando, mesmo preferindo fazer outras coisas para você muito mais interessantes, o faz só para encaixar mais uma pecinha de lego na sua Pessoa B.
Nesse longo período chamado adolescência – que para as mulheres deve começar aos 10 – Nos despimos da pessoa B muito raramente, talvez quando dormimos e sonhamos, talvez sozinhos no banheiro, talvez em um momento de estresse muito forte como a morte de alguém amado, ou – essa é a mais interessante – quando algum detalhe nosso, muito íntimo e meio ridículo, é detectado. Quando alguém descobre que temos medo de dormir de luz apagada, quando nosso amigo vê que temos medo de barata, quando nossa namorada percebe que choramos em filmes tristes, quando depois de sermos ameaçados por aquele babaca do jiu-jitsu lá da praia, nos escondemos em casa para chorar solitariamente. A Pessoa A também reassume o comando quando somos surpreendidos fazendo algo errado, roubando, traindo, enganando, mentindo, etc. Nestes momentos, a Pessoa B é desconstruída e é a A quem fica com os escombros.
Vamos agora ao clichezaço final, aquelas “filosofadas” que muita gente já cometeu, mas que pra mim parecem tão procedentes agora, depois dessas conclusões a que cheguei há apenas algumas horas: há uma peça em cartaz, um filme sendo rodado que nós mesmos escrevemos e atuamos, uma produção barata cheia de papéis esquisitos, ridículos e tolos, os quais somos nós mesmos quem representamos travestidos de nossas pessoas B.
A idade é quem nos salva dessa “bipolaridade comum a todos”. Quando largamos a adolescência, quando avançamos nos 40 e poucos, vamos nos libertando da Pessoa B e passamos a valorizar cada vez mais a Pessoa A. Passamos até a nos arrepender por termos perdido tanto tempo com a B, falsa, prisioneira e teleguiada, e vamos nos regozijar na felicidade de sermos a A. Só aí, descobrimos o quão feras sempre fomos.
Mas o negócio é o seguinte, quando crianças ativas, a partir dos 4 ou 5 anos, somos muitas pessoas dentro do mesmo corpo. Somos aquela básica, a primeira e verdadeira, que só nós – e, talvez a nossa mãe – conhecemos, e, paralelamente, somos aquelas que gostaríamos de ser. Personagens que quando os assumimos, “vestimos” sua personalidade e, daí, passamos a agir como súper heróis alados, agentes secretos, sei lá. E não é brincadeira, não é consciente. Nós realmente esquecemos nossa verdadeira pessoa e passamos a ser nossos heróis. E a coisa vai piorando a medida que vamos crescendo. Quando atingimos a adolescência – que para os homens, acaba lá pelos 30 anos –, não temos mais tantas “pessoas” diferentes dentro de nós. Mas as que restam, todas menos a real, são fortíssimas.
Durante esse período, falamos, pensamos, comemos, ouvimos música, praticamos esportes, nos relacionamos com as outras pessoas, de acordo com a personalidade que concebemos como a ideal (de agora em diante, neste texto, considerada a Pessoa B), não como a nossa verdadeira (Pessoa A). Construímos a Pessoa B encaixando características como se fossem peças de lego coletadas nas nossas fontes de informação, que no nosso caso, na atualidade, são as outras pessoas com quem nos relacionamos e a mídia. Assim – que coisa, estou tendo uma conclusão encima da outra –, no fundo, não somos nós quem construímos a Pessoa B, mas sim os outros e a mídia, especialmente esta última. Assim, se você paga uma grana alta por aquela camiseta da marca Tasglen, que nada mais é do que uma camiseta branca com o logo da Tasglen estampado, o faz não porque que você acha a mercadoria bonita mas sim porque ela é imprescindível para o seu Personagem B, é uma das peças de lego que a compõem. Se você insiste em surfar mesmo não gostando, mesmo preferindo fazer outras coisas para você muito mais interessantes, o faz só para encaixar mais uma pecinha de lego na sua Pessoa B.
Nesse longo período chamado adolescência – que para as mulheres deve começar aos 10 – Nos despimos da pessoa B muito raramente, talvez quando dormimos e sonhamos, talvez sozinhos no banheiro, talvez em um momento de estresse muito forte como a morte de alguém amado, ou – essa é a mais interessante – quando algum detalhe nosso, muito íntimo e meio ridículo, é detectado. Quando alguém descobre que temos medo de dormir de luz apagada, quando nosso amigo vê que temos medo de barata, quando nossa namorada percebe que choramos em filmes tristes, quando depois de sermos ameaçados por aquele babaca do jiu-jitsu lá da praia, nos escondemos em casa para chorar solitariamente. A Pessoa A também reassume o comando quando somos surpreendidos fazendo algo errado, roubando, traindo, enganando, mentindo, etc. Nestes momentos, a Pessoa B é desconstruída e é a A quem fica com os escombros.
Vamos agora ao clichezaço final, aquelas “filosofadas” que muita gente já cometeu, mas que pra mim parecem tão procedentes agora, depois dessas conclusões a que cheguei há apenas algumas horas: há uma peça em cartaz, um filme sendo rodado que nós mesmos escrevemos e atuamos, uma produção barata cheia de papéis esquisitos, ridículos e tolos, os quais somos nós mesmos quem representamos travestidos de nossas pessoas B.
A idade é quem nos salva dessa “bipolaridade comum a todos”. Quando largamos a adolescência, quando avançamos nos 40 e poucos, vamos nos libertando da Pessoa B e passamos a valorizar cada vez mais a Pessoa A. Passamos até a nos arrepender por termos perdido tanto tempo com a B, falsa, prisioneira e teleguiada, e vamos nos regozijar na felicidade de sermos a A. Só aí, descobrimos o quão feras sempre fomos.