sexta-feira, outubro 22, 2004

Saudades do Ratinho.

Durante o primeiro episódio de “Boarding House: North Shore”, programa que passa semanalmente em um canal de TV aqui dos Estados Unidos - é, Pierre Alfredo está dando um tempo aqui nos estaites -, Sunny Garcia, um dos melhores surfistas profissionais da atualidade, por cismar que sua mulher estava sendo observada excessivamente por um cara em um bar, ameaçou arrebentá-lo. No segundo episódio, Sunny sentou a mão em um outro surfista na praia, também por achar que o rapaz olhava demais para a esposa. No terceiro episódio, Sr. Garcia tascou uma chapuletada no rosto de outro homem que discordou das suas idéias a respeito das regras dos campeonatos no Havaí.
Não entendi bem o sentido do programa, mas ele consiste basicamente em 7 surfistas profissionais (3 meninas), vivendo numa puta casa à beira-mar em Haleiwa e... só isso, eu acho. Não tem nada de “Big Brother” ou coisa assim porque há esposas convivendo, eles saem quando querem, vão às festas, campeonatos, pegam onda todo o dia inclusive. Então, o que resta do programa são as belas imagens das praias, dos biquinis americanos e das porradas do Garcia.
Se mostra também os campeonatos e se tenta criar uma certa emoçãozinha, um toque de torcida ou suspense, mas não dá. Campeonato de surf continua sendo a coisa mais sem graça que existe - quem leu as colunas anteriores, sabe que Pierre já pensa assim faz tempo. O próprio produtor do programa, Mark Burnett, o mesmo que inventou o Big Brother, disse no New York Times que competições de surf são difíceis de serem televisionadas por causa da sua estrutura. “Trata-se de um punhado de surfistas na água, ao mesmo tempo, sendo observados por alguns juizes que subjetivamente avaliam a desenvoltura dos competidores. Dessa forma é difícil julgar quem realmente ganhou ou perdeu. Esqui no gelo é muito mais fácil”, diz Burnett.
O mitológico Randy Rarick, que há décadas participa de alguma forma do circuito mundial de surf e é atualmente diretor executivo da Vans Triple Crown of Surfing - competição que aparece no programa -, diz, ainda no NY Times, que os surfistas podem até se interessar, mas a rapaziada em geral não suporta por muito tempo assistir surf televisionado. Enche o saco.
Mas Randy também pensa estar aí o segredo do sucesso que esse programa possa vir a ter (até agora não decolou, segundo o jornal): as pessoas podem não gostar de assistir surf, mas podem se interessar pelo que passa na cabeça dos surfistas.
Aí é que está o problema: os surfistas coadjuvantes quase nem falam e quando não estão surfando, estão dormindo, ou vendo as condições do mar em um dos três computadores que estão disponíveis ou, ainda, dançando na noite, bebendo, de roupa colorida, touca e aquelas caras de chapado. O protagonista é Sunny “Massaranduba” Garcia, rapaz caseiro mas que pelo menos dá porrada. Isso, entre os homens. As meninas nem consigo lembrar o que fazem, a não ser pelo surgimento de uma intriga entre elas que a televisão faz tudo para que os espectadores notem. Mas, Pierre tem certeza, ninguém repara. Tenta-se também apelar para um erotismo mas, para um público basicamente masculino, meninas de calção de surfista, camiseta e chinelo não inspiram nem o tarado da Costeira.
Chefes das grandes redes de televisão americanas têm observado que os esportes coletivos -
“team sports”, como eles dizem - vêm atraindo cada vez menos audiência nos Estados Unidos. A quantidade de telespectadores da faixa etária (18-34 anos) que, há alguns anos, não perdia por nada uma cesta da NBA, ou um “touch down” da National Football League, caiu em média 20% nos últimos 10 anos. E isso significa milhões e milhões de dólares a menos.
A saída, segundo estes executivos, pode estar nos esportes radicais, ou “youth-oriented sports”. No entanto, parece que estes, o surf principalmente, não atraem o público que não os pratica. E quem os faz prefere fazê-los a assisti-los na telinha.
Mas o que Pierre conclui disso tudo é que Sunny “Vô dá porrada” Garcia deveria passar uns tempos no Campeche ou na Joaquina, fazendo um estágio, dando uns cursos. Quem sabe ele esfria um pouco a cabeça.

Movimento anti-localismo é universal

Pierre Alfredo continua aqui nos “istaites”, longe do mar mas perto das bancas de revista. E foi em uma delas que ele encontrou a última Surfer especial – Giant Colector’s Edition – quase o dobro do tamanho da Surfer normal, cheia de fotos espetaculares e anúncios nem tanto. Os poucos textos são basicamente os mesmos das outras revistas de surfe – brasileiras inclusive. A matéria de capa tem o título “O que é surfar agora?” e eu pensei que eles iriam “arrombar” com um texto fashion-espiritual-filosófico mas não. Inventaram uma história estranha e ficaram nas modificações técnicas que aconteceram ao longo dos anos, não apresentando nada de novo. Tenho que confessar, no entanto, que não tive saco p’ra ler a matéria até o final.
Mas a seção de cartas está quente e o localismo é um dos destaques.
Inclusive, um dos missivistas provavelmente andou visitando o S365 e lendo as pobres palavras deste colunista pois, da mesma forma como Pierre fez em uma das colunas passadas, ele compara o localismo ao racismo e às ações de grupos como a Ku Klux Klan e etc. Olhem como começa a simpática cartinha, do companheiro Steven Stuart, lá de San Diego, na Califa, que foi primeiro ao dicionário: “RACISMO: 1. Crença na superioridade de uma determinada raça em relação às outras. 2. Discriminação ou dano baseado unicamente em diferença racial. LOCALISMO: 1. Crença na superioridade de um determinado grupo em relação às outras pessoas. 2. Discriminação ou dano baseado na suposição de que se é dono de determinada praia”.
E Steven continua: “Na minha opinião, locais que utilizam da força para proteger suas ondas têm muito em comum com aqueles caras da KKK ou de outros grupos de supremacia racial. Todos eles pensam serem superiores. Todos eles usam da violência para atingir seus objetivos. Qual é a diferença entre uma cruz queimando [símbolo da KKK] e pneus rasgados/vidros riscados? Em ambos os casos o objetivo é o mesmo: humilhar e intimidar visando tomar o controle da situação”. O Steven tá ou não tá certo?
Pierre ganhou também uma Surfing de alguns meses atrás e o que tinha de melhor outra vez eram as cartas. Entre essas, a do Geoff Hagins, que compara os locais de uma determinada praia da Califa a Jim Jones e a David Koresh, ambos líderes de seitas que levaram dezenas de pessoas à morte. Ele diz que esses locais do tal pico ficam incitando outros mais novos a atos de barbarismo contra pessoas de fora. E esses caras, segundo ainda o Geoff, podem também ser comparados a Osama Bin Laden pois, mesmo cometendo estes atos de terrorismo, vivem dizendo que não são terroristas mas sim, que estão só protegendo a própria cultura. Pior é que a comparação do Geoff até que faz sentido.

Mas quem passou esta Surfing para o colunista foi o Davio, um também californiano de quarenta e poucos anos que, mesmo aqui, a quilômetros do mar, continua sempre vestido de surfista e perguntando “lá na tua cidade, no Brasil, tem Quicksilver?” Ele já viajou bastante para pegar ondas e, a respeito do localismo, me disse que uma vez estava em Sunset, todo vermelho do sol – o cara é branco p’ra caramba – esperando a série, quando escuta uns berros. Ele olha e vê o John-Boy Gomes chegando, dando socos na própria prancha e xingando todo mundo. Diz o Dávio que quando Gomes o viu, vermelho, sentadinho ali, não perdeu tempo: “hey you, pink haole. Get out now”. E o que fez o Dávio? Pranchinha debaixo do braço e tchau pra ti.

Surfe na tv
E aquela série de tv que foi objeto de comentário na última coluna – Board House: North Shore – já saiu do ar. Pierre avisou, mas eles não escutaram: surf pode ser muito bom de se fazer mas muito chato de se assistir. E os protagonistas, ainda por cima, não tinham qualquer talento. Nem mesmo Sunny Garcia. A coisa estava tão sem graça que o colunista desistiu no último instante de assistir ao último episódio. É que, na mesma hora, começou a passar Zorro no outro canal. Muito mais irado.

Lendas do Surf Suburbano I – O surf cafajeste de Paulo Picareta.

Lá no Estreito havia um cara, um surfista, que levava uma vida bastante curiosa. Não adianta, não vou dizer o nome dele mas vamos chamá-lo de Paulo Picareta. Ele tinha uma apelido mais ou menos igual a esse e quem o conheceu vai lembrar na hora. Eu não tinha nenhuma amizade com essa figura, mas soube de muitas das suas histórias sobre quais não posso garantir total veracidade, é claro.
Vamos, então, descrevê-lo: cabelo clareado (com parafina, tinta, sei lá), tatuagens enormes (incluindo o indefectível dragão), sempre bronzeado, sempre cheio de gatinhas e sempre, sempre duro de grana. Essa última característica era a que fazia Picareta – num ato de desespero – se virar de qualquer maneira e, por isso, foi ela que lhe deu esse apelido carinhoso. Mas, antes de mais nada, o Paulo era uma pessoa popular – todo mundo conhecia – apesar de ele, no meu entender, não ter muitos amigos. Primeiro porque ninguém o levava muito a sério, segundo porque ele não tinha concentração suficiente para amizades. Acredito mesmo que ele não conseguiria prestar a atenção em qualquer coisa por muito tempo, muito menos numa pessoa. A não ser, é claro, que essa pessoa fosse do sexo oposto. Nesse caso, Picareta poderia dedicar até algumas horas de devoção. Era uma criatura simpática, o Picareta, ninguém pode negar.
Quanto ao surf, bem, aí é que a coisa pega: o nosso Picareta era calhorda, não surfava nada. O que era compreensível já que, pobre, não tinha muitas condições de ir à praia constantemente e, diziam os maldosos, tinha um pouco de preguiça de passar arrebentações, remar correntezas, essas coisas que – eu compreendo – são chatíssimas. É, ele não pegava onda. Mas fazia onda que era uma beleza. Tanto que, quem não conhecia esse detalhe, quem nunca o havia visto surfar ou tentar fazê-lo, apostaria na ferocidade do seu surf. Tenho certeza que até ele mesmo acreditava. Porque só dessa forma, só acreditando muito no que diz, se consegue não deixar dúvidas em ninguém.
Poucas vezes ele cometeu falhas que comprometessem seu cartaz. E nessas poucas vezes, a falha resultou dessa autoconfiança maluca que ele tinha. Esse negócio de acreditar nas próprias fantasias, não tem? Um desses momentos se deu quando, se eu não me engano no Morro das Pedras – praia onde o pessoal do Estreito é local – estava acontecendo um campeonato entre os estreitenses. O Picareta, que estava ali só de passagem, não se conteve quando a rapaziada, todos conhecidos, botou na sua cabeça que o campeonato estava prá ele. Não foram necessários muitos “vai Paulo, vai Paulo” para ele entrar em um transe alucinógeno-vaidoso e esquecer que não tinha surf suficiente nem prá enfrentar o Morro, quanto mais prá um campeonato. E ele se inscreveu. Quando deu por si, “Inês já era morta”.
Pior é que o mar não estava pequeno e acredito que ele só se tocou da cagada quando teve que furar a primeira espuma, aquela que esfriou a sua cabeça. Porque, quem o viu entrando n’água, diz que suas feições sérias pareciam indicar que a bateria estava no papo mesmo. Mas após esse primeiro espumeiro, esse que o trouxe de volta à areia e à vida real, posso imaginar o conflito mental que se estabeleceu em cima da sua prancha, o medo do Morro das Pedras grande misturado à vergonha de mal conseguir surfar, nem ficar em pé direito e, acima de tudo, o medo de ser descoberto. Meu deus, Picareta teve que botar todos os seus criativos neurônios prá batalhar uma saída enquanto se esfalfava brigando contra a arrebentação. Essa, a arrebentação, ele passou se valendo mais da boa forma física que mantinha – era um grande nadador da praia do Cagão – do que da experiência de surfista. Quando ele chegou lá fora e sentou todo desequilibrado na prancha é que, imagino, olhou pro céu e perguntou: “e agora?”.
E a solução abençoada veio. O raciocínio simples e, ao mesmo tempo, espertíssimo deve ter sido o seguinte: se não posso revelar que não surfo nada, o jeito vai ser.... não surfar. E assim fez Picareta, ficou lá fora, na segurança, remando prá lá e prá cá. De vez em quando ameaçava descer uma mas, é lógico, puxava o bico e socava o mar, como que queixando-se da falta de sorte. Detalhe é que seus adversários se empapuçaram. E assim a bateria passou, Picareta pegou uma qualquer lá – das menores, é óbvio – e veio de jacaré.
“Dei azar, não estava me sentindo bem, aquele pão com mussi que a mãe me deu no café não me fez bem, tô cheio de gazes”. Pronto, ninguém fez muitas perguntas. Alguns se solidarizaram, outros sentiram até pena da suposta situação gástrica do cara. Picareta estava salvo.
Mais fantástico ainda é que as meninas, muitas, que visitavam o quarto do Picareta – que não só tomava café mas também morava com a mãe – diziam, pasmem, que lá existia uma estante lotada de troféus. O cara, se medíssemos pelas taças, havia sido campeão de uma enormidade de torneios, campeonatos, etc. Alguns de amplitude estadual. Como? Só havia uma explicação: mandava fazer, ou gravava ele mesmo, os próprios troféus. E com estas armas, ele “matava” as cocotas no seu quartinho. “Pôoo, Paulinho, tu já ganhou todos estes campeonatos?”, perguntava a gatinha inocente. “É, eu dou as minhas cacetadas”, dizia o Picaretaço, todo orgulhoso. O guri era um gênio.

terça-feira, outubro 19, 2004

Quem vê cara não vê coração.

Numa coluna aí que cometi, quase chorando lembrei da minha adolescência, da facção pobre do surf da qual eu fazia parte, da nossa praia predileta – a Barra da Lagoa –, das coxinhas de galinha que nos nutriam e das pranchas medonhas com que nos estabacávamos nas ondas. É falando sobre estes tocos horríveis que pretendo enrolar a meia dúzia de três ou quatro que lerão esta edição da “Fazendo Onda”.
Era difícil prá nós, quase ainda crianças, sem mesada ou pai abastado, obter uma prancha de surf. Consegui a minha primeira através de uma longa seqüência de trocas de mercadorias, um circuito de escambo – como a gente aprendia na escola. O skate por uma bicicleta, a bicicleta por outra bicicleta, a bicicleta por duas bolas de basquete e uma camisa do avai autografada, as duas bolas mais a camisa por outra bicicleta – uma barra-forte – e, finalmente, esta bike pela prancha. Era uma Piu 6.4, lembro bem, que já devia ter uns 6 ou 7 anos de uso e era amarelona tanto pela pintura quanto pelo tempo. Prancha que até não estava tão ruim, não fosse pela “mordida de tubarão” que ela tinha: um rombo, muito mal consertado, que cobria uns 20 centímetros na lateral da rabeta. Quem tentou arrumar o estrago, colocou só resina de tal forma que o lance parecia uma casca de ferida gigante, mal lixada, que cortava o meu pé de vez em quando.
Preciso de um parágrafo só para descrever a quilha. Que obra de arte. Aqueles quase 50 centímetros de madeira afiadíssima, com uma curvatura que lembrava aquelas adagas árabes, deveriam estar em um museu. Coberta também por uma resina mal lixada e presa à prancha por camadas e camadas de tecido – porque vivia se soltando –, era uma arma branca. Provavelmente se tratava de um “estepe” pois perderam a original e mandaram o marceneiro fazer outra, uma substituta. Um perigo. Não sei se não seria mais fácil tentar descer ondas sobre uma mesa de churrasco. O peso provavelmente seria o mesmo, só que a mesa não teria a precisão e a estética daquela quilha.
Mas assim mesmo, torta e feiosa, eu adorava a minha prancha na mesma medida da dificuldade que tive para conquistá-la. Nos entendíamos muito bem. Ela era assumidamente uma prancha velha e destruída que tinha, no entanto, um espírito alegre e jovial. E nós nos gostávamos e não estávamos nem aí para os comentários.
Hoje, tem muita prancha circulando e neguinho troca todo o mês. Vende uma, já compra outra e assim vai-se mantendo atualizado. Todo mundo tem prancha boa, mas se tratam só de pranchas. A minha não era só uma prancha. Era uma entidade mitológica com poderes superiores, que representou um papel importantíssimo na minha adolescência, por mais detonada que fosse, a coitada. Por causa dela, eu podia dizer prá todo mundo que tinha uma prancha e era surfista, por mais prego que eu fosse e mesmo com toda a minha falta de talento prá coisa.
Fazendo uma comparação esdrúxula, é a mesma coisa que acontece com a música hoje em dia. É tão fácil conseguir – é só baixar – que não dá tempo nem prá gostar. Faz-se o download, se escuta umas duas vezes e se esquece. Eu lembro de economizar cada tostão prá comprar aquele vinil do Bob Marley ou do Police, por exemplo, e depois escutá-lo todos os dias por meses a fio a ponto de saber todas as letras de cor, mesmo não entendendo patavinas do que estava sendo cantado. De formas que cada vinil destes guardava a trilha sonora de um determinado período da vida. Cada um destes LPs marcou uma época, da mesma maneira que cada uma das minhas 3 ou quatro pranchas, simboliza um período da minha vida, não tem?

Lendas do Surf Suburbano II - O mundo paralelo de Melhoral.

Dando continuidade à mitologia do surf suburbano de Floripa, nesta edição do Fazendo Onda vou lembrar as aventuras de Melhoral. Esse, claro, não era o apelido correto do cara que, na verdade, era algo parecido, na linha farmacêutica também. Mas não vou dar a identidade dele por motivos de segurança. O que interessa é que o Melhoral não só era como ainda é outra figura lá do continente que, porém, ao contrário do Paulo Picareta da coluna anterior, pegava e ainda pega onda mesmo, é fera, apesar de já estar na meia idade. Na verdade, Melhoral até agora não sentiu o peso do tempo e continua o mesmo tanto física quanto mentalmente, sempre em boa forma, morando com a mãe, se alimentando bem, uma gatinha ali, outra aqui, etc. Até hoje, trabalhou muito pouco, estudou quase nada e, claro, é durango. Outro traço do Melhoral, talvez o mais conhecido, era – não sei se é ainda – a sua cleptomania. É, Melhô tinha essa doença, problema que, por muitas vezes, o deixou em apuros. Também, ninguém pode ser 100% saudável, né.
Ele não era, assim, um ladrão. Nada, Melhô só afanava coisas idiotas, sem valor, mas que deixavam os afanados putos. Era uma doença mesmo porque ele não conseguia se controlar e, de carona com algum amigo – nunca teve carro –, Melhô na saída sempre levava a fita do Bob Marley, uma toalha, a parafina do cara, essas coisas. Era uma pena porque esse problema o impedia de manter boas amizades.
Outras coisas interessantes sobre o Melhoral, eram o seu bom coração – não era de briga – e, especialmente, sua curiosidade atroz. Apesar do pouco estudo, Melhô se encarnava em geografia, zoologia, ciência em geral – mas bem na geral mesmo – e também pelas notícias da hora. Por exemplo, no seu quarto equipado com TV cabo (gato, obviamente), o único canal que rola atualmente, dizem que é a discovery da qual ele já viu todos os documentários mais de uma vez. E sempre soube de cor a velocidade da chita na savana africana, ou qual o rio mais longo do planeta. Apesar de não ter paciência para a escola, o cara era interessado e tinha uma boa conversa, o que o diferenciava dos demais idiotas que éramos na adolescência, quando só palhaçada saia da nossa boca.
Melhô desenvolveu seu surf ali mesmo, no pico do Atlético, na Praia do Cagão, quando o vento nordeste típico do verão empurrava umas marolas maiores que propulsionavam a rapaziada por alguns metros. E ele foi um dos pioneiros, o desbravador do pico, o descobridor do secret point. (Aliás, prá quem não sabe, o Pico do Atlético, ali, na frente da Pedra da Baleia, já viu muita gente boa dando suas primeiras remadas, empurrados pelo nordestão. O problema era a água, que tinha todas as cores menos azul, e os canos de esgoto que funcionavam como aqueles piers californianos, dando mais pressão. O fundo atolava um pouco mas era consistente).
Soube que Melhô chegou a participar de alguns campeonatos menores e se deu bem. Porém, competições não lhe atraiam e o surf, para ele, assim como o skate, era só diversão.
Nunca fui um grande amigo de Melhoral, até porque era ruim de confiar no bicho, mas tínhamos uma boa relação ali pela década de 80. Chegamos a ir à praia juntos algumas vezes na mesma “barca” e fomos colegas até na night – não sei se este termo ainda é usado. Numa dessas oportunidades que tive de desfrutar seu companheirismo na balada – essa expressão mais moderna –, fomos a bordo do meu Fiat 147 1981 a álcool em direção a um dos muitos bares que a Lagoa já teve, ali na Rendeiras. Lembro que, em determinada hora, ao som de “na madrugada, vitrola rolando um blues, tocando B. B. King sem parar...” travei contato com uma qualquer lá e – vejam que descolado – fomos pr’um canto ver a lua sobre a lagoa. Ou seja, deixei o Melhoral lá e nem quis saber.
Tarde da noite ou cedo pela manhã, após me despedir meigamente da companheira lunática – no sentido de que estávamos vendo a lua – fui procurar o carro prá ir embora. Andei quase a Rendeiras toda e nada. “Roubaram o 147”, pensei. Voltei prá casa de busão, apavorado, pensando no que diria em casa e nem me lembrei do Melhô. Só recordei do elemento quando, ao passar na frente da sua casa, deparei com a viatura lá estacionada. Meu Deus, vejam do que ele era capaz: o homem fez ligação direta... Ligação direta! E veio embora atravessando as várias pontes que o separavam do continente. Não deu bola. Quando o interroguei a respeito, ele me pediu que entendesse já que havia passado mal e, no desespero não teve dúvidas. De que jeito ele aprendeu a fazer ligação direta em automóveis – se praticando ou consultado a bibliografia especializada – eu nunca tive coragem de perguntar.
Recentemente, em uma das esquinas da cidade, trocava de idéias sobre a vida alheia com um amigo “daquelas épocas” – ambos casados, universidade concluída, barriga a despontar – a quem questionei sobre o Melhoral. Ele me informou que Melhô “está na mesma vida, não evolui. Não estudou, não trabalha, é só praia, skate, gatinhas, night, sempre em boa forma”. Eu fechei: “comé que pode né?”. Ficamos em silêncio, como que raciocinando, por alguns segundos até que ele me olhou e mandou: “rapaz feliz, né?”. É, Melhoral tem o segredo da felicidade.


Éramos felizes e até sabíamos.

Realce, realce, quanto mais parafina melhor, já dizia Gil naquele som dos anos 80, ou final de 70, não lembro direito. Ah, que saudade. Tempo de ir pra praia de ônibus. Prá Barra da Lagoa, que ainda não tinha os molhes e podíamos pegar as merrecas do costão. Minha nossa, como eu era merrequeiro. Deixávamos a prancha lá na casa de alguém e íamos de busão. Lotadaço. Nós, as cocotas e o resto da manezada. E ficávamos o di-a-to-do na praia, debaixo do sol. Voltávamos no final da tarde, roxos do sol e de fome. Filas intermináveis pro busão e aquele rala e rola com as cocotas. Ah, coisa boa. Coisa boa agora, mas naquele tempo era casca. Imagina, tu subindo o morro da Lagoa de latão, sendo ultrapassado por carros cheios de pranchas em cima. Mas também, não estávamos nem aí. Não éramos pobres depressivos, nem tínhamos pena de nós mesmos.
Íamos ao boteco lá da Barra prá almoçar e comíamos um x-galinha-de-miserável que consistia em pão doce (massinha pra alguns) com uma coxinha dentro. Um refrigerante em cima – uma laranjinha maxwillians, podia ser – e o x-galinha-de-miserável se transformava numa bomba gasosa que nos sustentava o resto do dia. O problema era a volta, balançando no busão. Coitadas das cocotas. Mas elas também eram umas peidonas.
Um dia, a dona do boteco começou a notar que, ao invés de vender várias coxinhas, ou vários pães para cada caboclo, cada um se satisfazia com apenas um de cada. Ela notou que tava no prejuízo e proibiu o x-galinha-de-miserável, a miserável. Ou um ou outro, pão ou coxinha, ela falava. A combinação, milagrosa, tava proibida.
Mas algumas vezes não precisávamos pegar ônibus, porque o meu pai nos levava prá praia na Brasília dele. Meu pai gostava de praia. Botava a sunga por baixo da barriga e ficava lá esperando. Dava umas nadadas, andava prá lá e prá cá e nos espiava. Até no inverno ele ia. Tinha uma paciência enorme. Mas dizia não entender o surf porque nós caíamos mais do que surfávamos. Era tão pouco tempo em cima da prancha, falava, que não valia a pena o esforço. De certa forma, ele tinha até razão. Mas também, éramos pregos demais, nossas pranchas eram horríveis e, no inverno, caíamos no pêlo, como só as crianças conseguem. Mesmo assim, enchíamos a Brasília de adesivos da Energia, da K&K, do Rico, etc. Mas o pai gostava mesmo era de futebol e sempre mantinha um adesivo do Vasco prá contrabalançar.
Tínhamos que ir prá Barra porque, além da linha de ônibus, era a praia que tinha mais infra. Botecos, x-galinhas-de-miserável, etc. A Joaquina, que ainda era dos magnatas, não tinha ônibus, como hoje a Brava não os tem (magnata não gosta de ônibus, nem de quem os pega). Podíamos até puxar a corda e descer na Mole mas, lá, não tinha pão, coxinha, tampouco Laranjinha Maxwillian. O norte da Ilha não nos passava pela cabeça, a não ser para acampar na Ponta das Canas, nos Ingleses, sei lá. Podíamos, também, acampar na Armação, no Matadeiro, mas era na Barra que a gente estava em casa.
Para irmos à Joaquina acompanhar os campeonatos, saltávamos do latão no final da lagoa e íamos andando até a Joaca. E nesse tempo, já disse em outras colunas, o surf era o que menos interessava nos campeonatos. O negócio era a festa. Se bem que nunca víamos o show do final porque perderíamos o busão.
E tem razão quem diz que, naquele tempo, surf não era esporte mas um espírito, um jeito de ser, sei lá. Só que, prá mim, existiam vários tipos de espíritos. O nosso, por exemplo, não era aquele “chavão” que sempre se ouve, do surf como uma atividade de nômades, de desbravadores insaciáveis, etc. Esse era o espírito dos surfistas ricos. O nosso espírito, coitado, assombrava, basicamente, a Barra.
Hoje, é claro que tá mais fácil surfar. Tenho que dar o braço a torcer e aceitar que aquela coisa que fazíamos porque nos inflava o ego, porque tínhamos que fazer para manter os amigos, nossa vida social adolescente, justificar nossos cabelos loiros, etc, se transformou em um esporte de verdade. Muitos surfistas hoje não vão à praia pegar ondas, vão treinar. E só vão quando e para onde há ondas. Alguns são pagos para isso, outros querem sê-lo. Quase todos têm uma alimentação e preparação física especial e não precisam mais comer x-galinha-de-miserável.
Os campeonatos, agora, têm palanques móveis – sempre prontos para estar onde as ondas também estão – e acontecem freqüentemente, o que é bom para o esporte, mas ruim para as festas porque não são mais inusitados. Atualmente, quase nada pode impedir a realização de um campeonato de surf, nem falta de luz.
Hoje, é relativamente fácil se comprar uma prancha no Brasil e ninguém vai prá praia com aquelas tocos horríveis com que íamos e que mantínhamos, o mesmo, por anos. Para consertá-los, comprávamos tecido, resina e catalisador e nos lambuzávamos daqueles produtos químicos altamente tóxicos. E dá-lhe encher bolhas nas pranchas com resina, injetando-a com uma seringa obtida no lixo da farmácia. Uma vez fiquei de cama por uma semana, todo inchado, pois tive uma reação alérgica após me sujar todo tentando preencher uma bolha gigantesca na prancha de um amigo.
Colávamos qualquer foto de surf nas paredes do quarto. Podiam ser fotos de qualquer tamanho e de qualquer revista e até de jornal, mas todas valiam muito prá nós. Revistas de surf valiam ouro.
As coisas do surf, há tão pouco tempo atrás, vinte, vinte e poucos anos, eram mais difíceis e menos confortáveis, principalmente para quem não tinha muita grana. Mas, confesso, curti muito. E era imensamente legal estar na Barra, em uma tarde de sol de verão, depois de almoçar um saborosíssimo pão com coxinha, vestindo o meu calção Ligthning Bolt marron – filho único de mãe solteira –, com a minha prancha horrorosa debaixo do braço, a caminhar para o mar. Naquele momento, tenho certeza, ninguém era mais feliz do que eu. Ninguém.

O tempo é infernal.

Rapaz, o Kely Slater tá careca! Eu vi na TV. Mas, convenhamos, a Pamela Anderson, que ajudou a dar fama ao rapaz, também já tá caída, né?. Não há mais lugar onde por silicone ali. E a Praia Brava, que já tem mais prédios que o centro de Floripa. Ah sim, o mar de Canasvieiras tá imundo e o dos Ingleses também. E meu irmão me disse que até a Lagoinha da Ponta das Canas já tem placa da Fatma dizendo “imprópria para banho”. Pelas barbas do Valdir. Se bem que isso é assunto para a administração do novo município, né. Vocês tão sabendo? Do novo município que tão querendo criar. Éééé, meu filho, tão querendo dividir Floripa. Estranho? Que nada, tem neguinho querendo realmente separar o norte da Ilha e criar outra cidade. Até já pensaram em um nome - horrível e óbvio: Balneário de Florianópolis. E até que prá uma coisa esse novo município serviria: o pedágio poderia ser ativado mais facilmente. Porque, olhem com piedade, a empresa que fez aquela duplicação meia boca, aquele trabalho nas coxas, o fez pensando na fortuna espetacular que iria ganhar com o pedágio. Temos que ter compaixão por eles. Cruzes. O tempo é mesmo uma m.... Pro Slater, pra Pamela, pra Floripa...
Mas o negócio é o seguinte: o tempo passa, e o surf não decola na mídia. Mesmo sendo o segundo esporte mais praticado no País, não temos nenhuma celebridade surfística. Toni Halk - o skatista -, e o Keli Slater são celebridades aqui nos Estados Unidos. E olha que nesse país, até o golf é mais forte do que o surf e o skate juntos.
Mas o tempo vai passando e até o Guga Kuerten, nosso campeão, já tá meio de saco cheio de segurar raquete, pois já tem grana e fama suficientes. Mesmo no Brasil onde o tênis tem quase nenhuma expressão. Enquanto isso, a fama do Teco Padaratz continua local, florianopolitana. Teco pode ser até famoso em outros países mas apenas entre a rapaziada do surf. Mas como? E o tempo vai passando...
E o Maguila, heim? O tempo foi cruel com o Maguila. Não ganhou título algum, levou porrada prá dedeco, mas é mais famoso que o Peterson Rosa. Dá pra entender?
Também, surf é chato de ser televisionado, é ruim de explicar pro leitor do jornal porque que o Tinguinha passou aquela bateria e não o Mark Occhilupo. Mas “puramor de Deus”, tem coisa mais chata do que volei de praia? E todo Domingo tem mundial no Rio de Janeiro, que passa direto na Globo. E sinuca? Só alguém com a mente atrofiada – ou um outro jogador - pode ficar, em um domingo, assistindo sinuca na TV. Pois não é que o Rui Chapéu tem mais fama do que a Tita Tavares, que tantas glórias já nos deu surfando no exterior, e que é dona de uma história de vida interessantíssima. Pelo menos a Tita continua pegando onda pelo mundo, enquanto que o Chapéu, o tempo já devorou. O tempo é terrível. Onde anda Rui Chapéu, heim?
Natação, por exemplo, quem se interessa por natação? Outros nadadores, eu acho. Mas porque o Xuxa - que nada pra caramba, não se pode negar -, é mais famoso que o Vitor Ribas? Porque é que o Xuxa já tá fazendo ponta em novela da Globo e o Vitor não? Só porque o primeiro ganhou aquela medalha de bronze lá naquela olimpíada, ou a outra de prata naquele panamericano, ou aquela de ouro no sulamericano (sei lá, tô chutando)? Porra, o Vitor já foi Campeão Mundial do WQS e único brasileiro a terminar uma temporada do WTC entre os três primeiros colocados! Dá um papel qualquer prá ele aí, ô Globo, mesmo que seja na das 6, né? Não deixa o rapaz perdendo tempo porque o tempo é violento.
Quem é que sabe quantos paraquedistas radicais existem no Brasil? Talvez meia dúzia. Mais? Tá bom, duas dúzias. Então porque é que o Gui Pádua tá todo o dia na mídia, mostrando os patrocinadores, ganhando dinheiro, etc e tal? Maluco por maluco, sou mais o Carlos Burle, né? Pular de paraquedas é fácil. É só Ter coragem prá se jorgar e puxar a cordinha na hora certa. Agora, prá descer aquelas morras, coragem só, não é suficiente. Vai muita técnica aí. O tempo tá passando... e é só paraquedas, só paraquedas.
Alguém aí já foi prá praia ouvindo um cd do grupo Polegar? Aquele que o tempo destruiu? Imaginem, aquela onda perfeita sendo dropada ao som de “dá pra mim, o seu cariiinhooo, dá pra mim, o seu amoooorrr”. Então porque que o Rafael Ilha, o “vocalista” do Polegar, mesmo depois de tanto tempo, depois de arruinado em todos os sentidos, depois de abandonado pelo Gugu, continua aparecendo mais na mídia do que qualquer campeão de surf? Só porque é maconheiro? Maconheiro por maconheiro...ãh? Brincadeira. Ô Gugu, te liga, o tempo tá passando. Não vai ter mais laquê que segure esse teu cabelo, heim.

Garoto, eu vim prá Califórnia.

Pois é, rapaz, tô aqui na Califa, em São Francisco, essa cidade liberada, muito mais do que a Praia Mole ou a Galheta, nossas praias que o preconceituoso Máurio definiu como “fora de controle”. Aqui já está tudo controlado e as bandeiras coloridas do orgulho gay estão desfraldadas pelas esquinas. E sabe quem eles chamaram para a festa pública da virada (no bom sentido) de ano? Os “macho-man” do Village People que, é claro, transformaram a festa num desbunde total. Foi gasolina no fogo.
Como estou vivendo lá pro meio dos Estados Unidos, onde tudo agora está cinzento e gelado, estava ansioso prá ver o oceano e o sol novamente. E fiquei feliz quando, no trânsito, ao sair do aeroporto, já vi um carro com uma prancha em cima.
Dia desses, solzão – coisa rara no inverno chuvoso daqui – fui dar uma banda pela highway 1, aquela que percorre toda a Califórnia pelo litoral. Desci de São Francisco até Santa Cruz, parando pelas praias, penhascos e rochedos. Percorri uns 150 quilômetros, eu suponho, devagarinho, e vi um monte de gente na praia e outro monte pegando onda. Os “francisquenses” que não surfam, levam suas cadeiras de naylon para a areia, sentam e ficam olhando o mar em silêncio. Coisa de hippie. Não esqueçam que estou no berço deles também.
Observei que a areia das praias estava sempre limpinha e não se via um caquinho de papel que fosse. E olha que eles tão sempre dando um rango. As praias são todas públicas e não se pode construir nada a uma distância mínima delas e, realmente, tenho que dizer que elas estão bem conservadas e cheias de vegetação nativa, mesmo as mais famosas. Além disso, muitas praias são parques ambientais, santuários da vida animal, etc.
Lembrem-se que este é o estado mais rico do país mais rico e capitalista do mundo, onde as garras da especulação imobiliária e os caninos dos hoteleiros são afiadíssimas. Acho que para segurá-los bastou ser honesto, usar a lei e dizer não, né? Tenho a impressão de que os californianos, têm total consciência de que, em regiões onde o turismo é sazonal, como aqui ou o litoral catarinense, hotel só cria subempregos temporários, e as casas e loteamentos, por mais chiques que sejam, acabam por destruir e desvalorizar qualquer praia, além de impedirem o acesso da população.
Outra coisa, na estrada, de vez em quando se vê uma placa que diz o seguinte: “Mil dólares de multa para quem jogar lixo na estrada”. É óbvio que ninguém arrisca.

Surf
Não vou falar que tinha umas ondas porque vocês sabem que aqui, no inverno, tem de sobra. Vi um monte de gente se empapuçando. Além disso, vocês sabem que é nesta região que está o encagaçante Maverick’s. Quem costuma ler essas reportagens chatas de revistas de surf sabe que Maverick’s quebra na Pillar Point, uma península ao lado da praia de Half Moon Bay, a uns 50 quilômetros de São Francisco. Nessa praia, estavam centenas de caboclos pegando umas merrecas, porque nem todo o mundo é doido, né. Prá se alcançar Maverick’s, se tem que estacionar em Half Moon e dar uma pernadinha até o pico. Deixei prá fazer isso na volta e continuei descendo com destino à Santa Cruz.
Quando retornava para São Chico, entrei em Half Moon com intenção de ver Maverick’s mas, como já eram umas 6 horas da tarde, encostei num boteco ali onde fazem a própria cerveja e acabei esquecendo das tenebrosas morras. Também, não ia cair mesmo.
Resumindo, fui à Maverick’s e não vi as famosas e geladas ondas. Mesmo porque, gelada por gelada, a do boteco tava de primeira.

Sinceridade
Entrevista que Brock Little deu pra Interview Magazine em 1991.
Interview: Porque você não diz quanto ganha por mês dos seus patrocinadores?
Little: Porque não acho justo o quanto eu ganho. Eu recebo mais do que outros caras que também descem ondas grandes e, por isso, me sinto culpado. Não é certo. Não deveria ganhar tanto.
Interview: Você já imaginou o quão diferente é a sua vida quando comparada à das pessoas “comuns”?
Little: Oh, claro. É uma comédia o que eu faço prá viver. As pessoas me perguntam o que faço prá ganhar a vida e eu digo “nada, eu recebo um cheque pelo correio e vou surfar. E quando não tem onda no Havaí, alguém me paga para surfar em outro lugar”.
Interview: Surfar ondas grandes é algum tipo de atividade espiritual?
Little: Que nada, nada a ver com isso. É só a coisa mais divertida que tem.

Essas foram as palavras mais sinceras e engraçadas que eu já vi sair da boca de um surfista profissional. Sem aquelas frases místicas, quase sempre carregadas de mitologia havaiana, que muitos repetem. E olha que o cara é bom, hein, e havaiano.

Feliz ano novo prá todo mundo e, em especial, prá quem está no inferno em que se transforma Floripa no verão. Abraço.