sexta-feira, junho 27, 2008

Violência

Em junho de 2006 retornei para Floripa depois de passar dois anos no exterior. E após este curto espaço de tempo, notei severas mudanças na cidade. E não estou me referindo à feiúra, à quantidade de lajes cobrindo casinhas à beira das estradas para as praias, aos milhares de outdoors, às lojas de material de construção em cada esquina, ao contínuo ciclo de poluição e destruição de praias (destrói e ocupa – inflaciona e elitiza – caga tudo e não limpa – desvaloriza e vai embora). Falo da violência. Não só da violência comum, esta das páginas policiais, do número de assaltos, roubos e assassinatos que também aumentou assustadoramente. Me preocupo mais ainda com um certo clima de violência que está no ar, que está na cara feia daquele transeunte que passa me encarando, do motorista que vem e não desvia de mim quando caminho à beira da estrada, ou que passa rente ao meu carro quando estou dirigindo. Existe algo sim, há, agora, esta sensação na atmosfera florianopolitana, essa convicção de que todos são inimigos, de uma desconfiança geral, de uma competição de esperteza, do quanto mais malvado melhor, e de que se vacilar, dança.
Esta cidade não é nem nunca foi terra de santos, mas que as coisas não eram assim, não eram. Até pouco tempo, éramos meio tansos, meio simplórios até, confiávamos em todo mundo, fugíamos da porrada e só queríamos debochar dos outros. A opinião que eu tenho a respeito das causas desta metamorfose, quero deixar bem claro, não são movidas por nenhuma sentimento xenófobo, mas eu realmente penso que a migração foi o que trouxe essa nuvem de violência que paira sobre Florianópolis. Não que as pessoas que vieram morar aqui sejam bandidas, não que elas tenham promovido isso voluntariamente, não que elas não devessem ter vindo. O que eu quero dizer é que estas gentes todas, escoladas no caos de suas cidades de origem e fugindo dele, acabaram por trazê-lo para cá na forma dessa desconfiança, desse “não levo desaforo”, desse “atiro primeiro, depois pergunto”, dessa insegurança permanente.
Aliado a este fenômeno natural e inevitável – que, no fim das contas, está trazendo Floripa para a realidade do Brasil –, colabora também para ele a índole absorvedora de más idéias do nativo. Na falta de uma cultura local definida, ou por essa tansice a que me referi acima, ele encampa coisas, comportamentos, jeitos de ser, da galera de outros lugares.
É por isso que adolescentes andam pela Lagoa de boné para o lado, roupas de beisebol (roupas de beisebol!!!!) e um berro na cintura, ouvindo rap americano (do qual eles não entendem uma palavra, aliás, a maioria dos americanos tampouco entende) e se comportando com se fizessem parte de uma gang californiana. É por isso, por essa mania de copiar merda, que torcedores do Avaí e do Figueirense, de toca de lã na cabeça em pleno verão, pulam nas arquibancadas imitando a maneira de torcer e os gritos de guerra de times paulistas, e depois vão atirar pedra nos ônibus do adversário para assassinar um menino de 17 anos. É por isso que alguns tarados locais (ou metidos a locais) se enchem de tatuagens ridículas – índios americanos, dragões chineses e os mais variados símbolos tribais dos quais ninguém conhece a tribo ou o que significam – raspam o cabelo, e vão para a praia dar porrada em quem eles intitularem haoles, dentro do mais puro espírito havaiano.